terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

A resposta é a Educação - A tragédia das enchentes no Sudeste do Brasil

Este é um texto escrito pela Educadora Regina Pundek da Escola Kids Home, que tomo a liberdade de publicar, uma vez que recibi como pai de aluno que sou, conforme pode-se perceber;

Olá Silvio Roberto e Daniela,

Minha primeira proposta de reflexão deste ano está focada num fato realmente impactante para todos os brasileiros: as tragédias das enchentes.
Quisera crer que muito rapidamente conseguiremos resolver questões como esta, tanto do ponto-de-vista político como do social.
É preciso se envolver e agir!
Abraço,
Regina


2011 chegou molhado pra nós do sudeste. Molhado, alagado, triste...

No dia 10 de janeiro levei meu filho ao aeroporto de Cumbica e, na volta, quase não cheguei a minha casa. A chuva despertou o Tietê, que acordou, saiu do leito, resolveu passear e invadir os bairros. Meu marido e eu vivemos na pele a expressão “andando feito barata tonta”. Os carros que conseguiam deixar o engarrafamento da Avenida Marginal tentavam encontrar saídas invisíveis. Iam e vinham, dando voltas e encontrando impedimento em ruas e ruas alagadas. Ficamos perdidos, assustados, ilhados por cinco longas horas. Quando enfim chegamos a nossa casa estávamos exaustos, mas inteiros. Dormimos o sono dos justos e nos dias seguintes constatamos que mais e mais as tempestades estavam invadindo casas, derrubando montanhas, muros e corações.

Diariamente, ao assistir os noticiários, os brasileiros se comovem com tudo o que vêem. São casas destruídas, famílias mortas, pessoas desesperadas. Cenas de resgate fazem-nos chorar perante a coragem, a força e a humanidade. Cenas de doações e de voluntários trabalhando para ajudar àqueles que não têm mais sequer um canto onde chorar, nos impelem a agir também.

Fico pensando nas crianças. Naquelas que estão lá, sofrendo as perdas e também naquelas que estão com suas famílias, no aconchego de seu lar. A televisão mostra crianças brincando na água da chuva, sem consciência dos fatos; mostra também bebês salvos sob o aplauso de uma comunidade explodindo de dor e lágrimas. Também vimos adultos sem esperança, preferindo morrer a viver esta situação pela segunda vez, pois em algumas localidades a tragédia está se repetindo. Em cada rosto há uma história e cada um vai, ou não, superar de uma forma diferente. Certamente os traumas vividos marcaram a vida destas pessoas, de adultos e de crianças.

O real significado da solidariedade incomoda neste momento. Queremos ajudar efetivamente. Precisamos educar aqueles que serão os adultos dos próximos anos. Dar significado a valores como ética e moral para que depois eles consigam colocar em prática.

Explicar para as crianças o que está acontecendo e envolvê-las no movimento de ajuda é uma forma de pensar no futuro. Não podemos fechar seus olhos e ouvidos, superproteger nossos filhos como se a vida fosse perfeita. Fazemos parte desta história e nossos filhos também.

A triste passividade das vítimas se declara em suas falas nas entrevistas. Conformados agradecem pela vida que lhes restou. E, a massa popular é mobilizada pela mídia. Enquanto os telejornais noticiam a tragédia, a população se emociona, faz doações e corresponde. Depois que o fato se desgasta e deixa de ser notícia, as pessoas esquecem. E, tudo retorna à rotina para os privilegiados enquanto outros continuam na luta pela reconstrução de suas casas e de suas vidas. O caso do Haiti é prova recente deste descaso social.

Quanta repressão nossa educação nos impôs que não sabemos lutar pelos nossos direitos, esquecemos prioridades e nos acomodamos tão facilmente! Esta educação que ensinou a calar, que castrou a criatividade e a iniciativa hoje faz a sociedade pagar caro pelos danos causados.

O Bem Comum tem que valer mais do que interesses individuais e financeiros. É esta a nossa luta. Educar é a resposta.

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